Little Camila loves

… o Natal. Gostamos muito do Natal. Que na nossa aldeia é cheio de tradições e costumes que já ouvíamos contar os nossos avós. Mais até do que a correria dos presentes, é a reunião da família e dos amigos numa ceia mais longa do que o habitual, a ida à Missa do Galo e a passagem pelos madeiros.

E por falar em tradições partilhamos hoje um texto belíssimo da Marta Sales, de quem já falámos aqui. Das tradições ou da reviravolta em busca das mesmas.

presépio

A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA, por Marta Sales

Estamos aqui, estamos a acender a fogueira do Menino. A noite de consoada vive-se, hoje em dia, mais entre portas mas ainda há muitos lumes acesos no centro de tantas aldeias. Não sei se com lenha roubada ou pedida. Nunca averiguei nas aldeias que conheço, mas ele acende-se. Irremediavelmente. A luz a interromper a noite e o calor no sorriso dos outros e o Natal parecem-me uma e a mesma coisa.

O meu Natal de criança era pouco natalício. A minha família não era dada a grandes tradições. Bacalhau cozido, ninguém comia. Menino na missa do galo, ninguém beijava. Filhós, compravam-se na pastelaria. Assava-se frango quando diz que peru é que deveria ser. Não se assava cabrito, ninguém gostava. E comia-se marisco, vá lá entender-se a minha família. Os presentes nunca ficavam por abrir depois das dez da noite, que isso dos miúdos andarem a pé até tarde não era muito bem visto. E lembro-me da fogueira e de muita gente em volta do calor à conversa. Ninguém da minha família, está visto.

E depois cresci e fiz-me mulher. E curiosamente eu e as outras mulheres da minha geração, na nossa família, fazemos tudo o que elas não fizeram. Uma vingança servida quentinha na Consoada e que envergonha os olhos mais enrugados à mesa. Come-se o bacalhau cozido com couves, do quintal. Fritam-se coscorões, sonhos e faz-se um bolo chamado Tronco. Assa-se cabrito e peru e não se compra nada na pastelaria. Os miúdos chegam a dormir antes da hora designada para abrir os presentes e acordamo-los como se fossem para a escola para cumprir o ritual de abrir as prendas à meia-noite. Este ano, vejam bem, combinámos de cantar canções de Natal à fogueira lá na aldeia. Depois de beijar o Menino, claro está.

A tradição já não é o que era. Dizem.

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